Investigadores da UÉ participam na primeira publicação sobre o estado das Aves em Portugal

Foi hoje divulgada oficialmente a primeira publicação sobre O estado das Aves em Portugal, que conta com a participação de três investigadores da UÉ, Inês Roque, Carlos Godinho e Rui Lourenço. Esta é a primeira vez que se realiza, em Portugal, um apanhado da maioria dos programas de monitorização de aves com base em ciência cidadã.

Inês Roque e Rui Lourenço, investigadores do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM), são colaboradores voluntários no programa NOCTUA – Monitorização de Aves Noturnas em Portugal, cujo objetivo é fazer face à falta de informação relativamente ao estado das populações de aves noturnas em Portugal. No período em que o NOCTUA tem estado em funcionamento (entre 2009/10 e 2018/19) foram amostradas 82 quadrículas diferentes ao longo do território nacional, e observou-se que “quatro espécies de aves noturnas registaram um declínio populacional significativo, acentuado nos casos do mocho-galego e do alcaravão e moderado nos casos da coruja-das-torres e do mocho-d’orelhas. A coruja-das-torres, o mocho-galego e o alcaravão, três das espécies em declínio, estão sobretudo associadas a meios agrícolas tradicionais e extensivos”, como indica a publicação.

Por outro lado, Carlos Godinho, também investigador do ICAAM, participa voluntariamente em dois projetos. Um deles consiste na construção de atlas que contribuem para a gestão da biodiversidade já que proporcionam uma imagem da distribuição e abundância das espécies ao longo do território. O objetivo principal de um atlas das aves nidificantes é recolher o máximo de informação sobre a distribuição das espécies durante a época de reprodução.  “Os dados do III Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (AAN) permitem verificar, por exemplo, que o arcebispo, uma espécie exótica de origem africana, quase triplicou a sua distribuição em 10 anos. No sentido oposto, a águia-caçadeira viu a sua distribuição diminuir em mais de 50%, quando comparamos com os dados do II Atlas das Aves Nidificantes. Estas duas espécies são exemplos de dois grupos de aves com tendências distintas nos últimos anos”, desvela a investigação. Já no segundo projeto, este dedicado ao estudo do Sisão, uma espécie emblemática das planícies do Alentejo que faz parte de um dos grupos de aves mais icónicos e ameaçados da Europa, observou-se que em Portugal, “em pouco mais de 10 anos, a população reprodutora da espécie diminuiu para cerca de metade”, declínio associado à transformação progressiva dos sistemas agrários que até então se caracterizavam por ser sobretudo extensivos.

Hodiernamente, assistimos a uma perda colossal de biodiversidade, predominantemente composta por aves comuns, graças a fatores tão diversos como alterações na paisagem agrícola, alterações climáticas ou até capturas acidentais pelas artes de pesca. Estas espécies que enfrentam igualmente as consequências do uso insensato dos solos ou da caça furtiva são também aquelas para as quais não estão definidas medidas de proteção direcionadas. E os números ilustram esta realidade, sendo que “no continente Europeu, 39% de um total de 170 espécies de aves comuns encontra-se atualmente em situação de declínio populacional. Estas perdas são ainda mais preocupantes quando nos lembramos do papel fulcral que as espécies mais comuns têm nas cadeias tróficas e na sua contribuição para o bom funcionamento dos ecossistemas”, revela a publicação. Neste sentido, torna-se vital o contributo ativo de cada cidadão, especialmente na envolvência em projetos que possam contribuir para aumentar e aperfeiçoar o conhecimento sobre o estado do ambiente ou promover a consciencialização ambiental. E é neste contexto que o trabalho dos investigadores se revela um exemplo do contributo pessoal e académico que cada um pode dar, neste caso, através da participação em projetos de monitorização da avifauna.

Publicado em 18.12.2019
Fonte: GabCom | UÉ